Assinala-se esta terça-feira mais um Dia Mundial da Poesia. Leia dois poemas inéditos de dois autores portugueses - Alexandre O'Neill e Mário-Henrique Leiria - que serão publicados em breve.
Requeixa de Taveirós
Como eu, mais nenhum outro
foi tão crédulo e tão louco
de se confiar em vós,
senhora branca e vermelha.
Franzis-me essa sobrancelha
com altivez e altavoz.
Nem por isso possuís
razão por vós.
Nem de razão é o assunto,
mas de coração, talvez.
Aqui não entra bestunto,
por esta vez.
Dizeis-me, o que eu já sabia,
que é melhor sofrer poesia,
pensando em vós,
que alimentar veleidade
de possuir vossa carne
e arrastar-vos, empós,
ao tumulto dos sentidos
que entreteve e entretém
mortos e vivos.
E quem assim desassisa
a Deus pede que o assista.
Rogai por nós!
Alexandre O' Neill, 1985
Uma das Liberdades
Um pequeno coelho
a correr
com o desespero
entre as pernas
e a erva a crescer
um cão babando
a correr
com a obediência
entre as pernas
e a erva a passar
um caçador rindo
a correr
com a espingarda
entre a morte
e a erva a fugir
um tiro gritando
a parar
com o caçador
entre o estômago
e a erva a esperar
um pequeno coelho
a correr
com a liberdade
entre as pernas
e a erva a sorrir
Mário-Henrique Leiria, 20 de agosto de 1972
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