segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Outubro mês da biblioteca escolar


Transcrição da entrevista

«Radar – Entrevista in Visão de 20 deOutubro de 2011
Teresa Calçada
“Ninguém nasce leitor”
Uma revolução silenciosa ocorre hojenas escolas, graças às bibliotecas escolares e aos professores bibliotecários.Portugal conseguiu pela primeira vez, em 2010, atingir a média dos países daOCDE em literacia de leitura. No Mês Internacional da Biblioteca Escolar,Teresa Calçada, coordenadora da Rede de Bibliotecas Escolares (RBE) desde 1996,comissária adjunta do Plano Nacional de Leitura (PNL), deita contas à actividadesdas 2277 escolas integradas na RBE, que servem 1,1 milhões de alunos.

O que é hoje uma Biblioteca Escolar?
É, como sempre foi, um lugar deprocura de saber. Mas hoje o que se procura, o que se encontra, o modo como seopera para encontrar, as tecnologias que usamos, não são apenas a tecnologia dolivro – temos recursos em suporte papel e em suporte digital. E as bibliotecasescolares são também os professores bibliotecários. São eles os orientadores,quem transmite aos miúdos uma consciência dos méritos e das vantagensacrescidas, mas não escondendo os seus perigos – no sentido da ilusão de quetudo o que está na internet é verdadeiro. A era da web não pode viver só da destreza, tem de viver de competências quenão são inatas. Nenhum leitor nasce leitor. E isso é válido tanto para atecnologia do livro como para o ambiente digital. Os leitores fazem-se comtrabalho, com produção, com prática continuada.

Segundo o último estudo do PNL, ointeresse dos jovens pela leitura aumentou e 52, 4 % consideram-na agora muitoimportante. As bibliotecas escolares tiveram um papel nessa mudança de atitude?
Quero crer que sim. O estudo demonstraque há um trabalho de retaguarda da Rede de Bibliotecas Escolares, que há maismiúdos a frequentá-las, uma melhor qualificação e que a oferta se vem adequandoaos tempos. Costumo dizer que as bibliotecas escolares são uma espécie detosco, são a infraestrutura, e o PNL, uma espécie de supraestrutura, que trouxeuma narrativa construída para divulgar a leitura como um bem, valorizá-lasocialmente, torná-la uma imagem de marca. Os miúdos habituam-se a que “LeR+”não é uma coisa “cota”, os pais associam “LeR+” a uma marca de qualidade, eisso trouxe, objectivamente, como verifica este estudo, uma valorização daleitura.

O que é ler com competência?
Primeiro, é ganhar o código deleitura. Tal como andar de bicicleta ou nadar, o que exige tempo e persistência.Depois, é necessário ter mecanismos para perceber o que os miúdos, mesmo lendocom destreza, não enendem porque ler é interpretar. Muitos meninos acabam o 4ºano sem essa competência bem cimentada. Estão condenados a serem maus leitores,logo maus alunos, em muitos casos reproduzindo a exclusão que transportavam àentrada da escola. Os estudos do PISA demonstram que em Potugal a escola éinclusiva, e a biblioteca ajuda também nesse trabalho. Tendo em conta quequando entra na escola um menino de uma família mais letrada está logocondenado a ler melhor porque tem o triplo do vocabulário de outra criança defamílias menos letradas, percebe-se a importância do trabalho da escola e dabiblioteca.

Em época de crise, o papel dasbibliotecas é ainda mais importante?
Acho que sim. Falamos sempre dasbibliotecas como locais de inclusão, quer pelos recursos que têm quer pelofacto de quem as governa desempenhar um trabalho que muitas vezes as famíliasnão fazem porque não sabem ou porque não podem. Quanto mais vivemos no mundo dainformação (e hoje a atravessar momentos de menor abundância), mais asbibliotecas, como lugar de abundância, devem ser usadas em rede. Tenhoconsciência de que, no caso das bibliotecas escolares, o que verdadeiramentefaz a diferença é ter lá pessoas que governam as bibliotecas. Se assim não for,são subaproveitadas. »

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