Não Sei
Não
sei, não sei nada sobre tudo, não sei sequer o porquê de não o saber, não sei
porque alguma vez desenvolvi um pensamento, se sabia que no final saberia o
mesmo que no princípio, ou seja, que nada sabia, e, no fundo, será que quero
saber? Será que não saber significa não ver, ou será que não saber significa
meramente que não existem barreiras para a realidade que se vê, pois esta não
se encontra limitada por conhecimentos absolutos que não podemos negar? E será
melhor nunca saber, deixar o mistério da verdade por desvendar, ou desvendá-lo,
e roubar-lhe toda a sua beleza e magnificência? Eu não sei…
Eu
não sei porque é tão mágica a noite, ainda que nela nada exista: apenas um
vazio disforme e, ainda assim, a personificação de toda a beleza a que a Natureza
sempre acostumou o ser humano, desde que este acordou para o mundo que o
rodeia. Não sei porque serão as estrelas, tão distantes, tão frias, tão mortas,
no céu negro, ainda assim, a luz que ilumina a vida, quando o resto está
apagado, as chamas branca e débeis que restituem cor e expressividade ao mundo
engolido pelas trevas, a esperança ígnea que faz o ser humano acreditar num
melhor futuro, num sonho inevitavelmente impossível, e, no entanto, demasiado
belo e perfeito, para não se tornar realidade. Não sei porque é a Lua atraída à
Terra, girando infinitamente em sua volta, sem nunca lhe tocar, sem a abraçar
ou beijar uma vez que seja, apesar de a constantemente encarar, sempre
sorridente e resplandecente, como se as duas vivessem um amor proibido,
condenado ao falhanço e ao cataclismo, mas não por isso desistissem da sua
paixão mútua, transcendente a qualquer lógica ou raciocínio. Porque funciona
assim a noite? E porque amo eu tanto que ela assim funcione? Eu não sei…
Eu
não sei porque luta o ser humano consigo mesmo, porque está ele disposto a
sacrificar tudo, em troca de nada, e depois, a não dispensar migalha que seja,
nem que tal cure a fome em todo o mundo. Não sei porque veem os seus olhos as
cores que tingem as peles dos seus iguais, e porque, ao verem-nas, tão variadas
e vivas, como uma grande tela multicolorida, preferem apagar todos os tons que
não reconhecem em si próprios. Não sei porque teme o ser humano as sombras,
porque o assustam seres sem rosto, escondidos na escuridão, por muito pequenos
ou inofensivos que sejam. A sua disformidade é a forma que mais aterroriza os
sonhos do Homem. Não sei como pode o ser humano ver tão nitidamente a realidade
em sua volta, como pode ele distinguir com tanta facilidade o bem do mal, como
se a moralidade fosse uma qualquer radiação que apenas a sua visão capta, e,
ainda assim, escolher ignorar o caminho correto, e deixar-se escorregar pelo
desfiladeiro da tentação e do erro. Não sei porque é o ser humano o ser que é,
e porque não é o ser que podia ser. Será que não o quer ser, ou será que não o
consegue ser? Será que alguma vez existirá um ser que o seja, ou será que para
sempre ele se manterá o ser que é? Eu não sei…
Eu
não sei aquilo que poderei vir a ser, não sei sequer aquilo que sou agora. Não
sei o que é a vida perfeita, nem sei sequer se tal coisa existe, fora dos
desejos irrealistas que por vezes me assaltam. Não sei porque terei sido
condenado a tal paradoxo existencial, no qual a minha mente, tão viva e
criativa, morre, quando chega à minha língua, e os seus pensamentos com ela perecem,
nunca chegando ao mundo exterior. Não sei porque me apaixona tanto a escrita,
porque me parece tão mágico e curioso o mundo em que vivo, porque vejo nele
algo que todos parecem ignorar, e que mesmo eu não saberia definir, porque não
posso apenas absorver e aceitar a realidade em que fui posto, porque me sinto obrigado
a interpretá-la sempre como se os meus olhos me mentissem, e eu visse apenas a
necessidade de ver, realmente ver, ver aquilo que os outros não veem, ver a
arte que eu sei existir, algures escondida, porque também em mim existe, porque
existe em toda a gente, porque existe em tudo.
No
fundo, eu não sei nada, não sei nada sobre tudo, não sei sequer porque penso,
ou porque escrevo a minha ignorância, mas pelo menos sei que nada sei, como
alguém muito sábio um dia disse, e mesmo que não saiba quem ele era, sei que
ele estava certo, e, afinal, ainda bem que estava, pois a vida apenas tem
significado se se buscar saber, e eu o farei, e espero que todos o façam,
porque saber é ilusão, e não saber…bem, não saber é ter os olhos fechados, mas
todos os olhos se podem abrir, como botões de belas flores, e aquilo que em
frente deles se estenderá é aquilo que eles quiserem que seja, e a sua
realidade é a realidade que eles compreendem, nada mais.
Jack
Maquiavel - Escalão A
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