terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Escritor do mês de Janeiro

Muitos parabéns ao aluno distinguido no mês de janeiro!

Bonitos cabelos rolam pelo vento

Bonitos cabelos rolam pelo vento, esvoaçando para o céu, como se a luz dourada que neles vivia procurasse o ouro incandescente e celestial, que consigo competia na iluminação da realidade. O mar flutuava lentamente, preguiçoso com o calor aconchegante do Verão, e flutuava também mais acima, quando os olhos se perdiam na infinidade azulada que era o horizonte, divisão indistinta entre um céu de água, e um oceano de céu, colorido por escassas nuvens, nada mais do que espumas fofas e brilhantes à deriva nas quentes vagas de vento que corriam por todas as direções, desamparadas. A sua pele esbranquiçada era afagada pelo calor, como se este lhe tentasse atribuir uma qualquer cor, pintar aquela bela tela vazia que possuía, ainda assim, toda a beleza permitida ao pobre mundo do qual se recortava.

Ondas de imenso porte galgavam a terra líquida para a qual a falésia se atirava, e soerguiam-se acima desta, cumprimentando a sua secura com húmidos e salgados salpicos.

Então os seus olhos voltaram-se para trás, fios de ouro rodopiaram delicadamente a toda a sua volta. Uma vaga embateu na rocha por detrás dela, e a água ascendeu, sendo trespassada por quentes e aconchegantes raios solares tardios, formando uma arco-íris- concha de viva cascata inversa, a toda a sua volta, contendo-a como a uma pérola reluzente. Tudo parou, por um segundo, toda a realidade se desvaneceu, esmoreceu por completo, diante daquele par de olhos, cujo brilho esverdeado conservava toda a alegria do mundo. Em redor das esmeraldas cristalinas estendia-se um mar de platina, plana, pura e reluzente, com as suas terminações no pendente ouro de seu cabelo, e na sua rosada boca, delicada e sorridente. Por um segundo houve verdadeira beleza, paz, e o céu desceu à Terra, para que esta pudesse ser merecedora de tal figura angelical. Por um segundo, a arte existiu, correu por toda a realidade, nítida e palpável como a água do mar que lhe lambia os cabelos, e ele sentiu-a dentro de si, quando viu aqueles olhos, ofuscando a própria Natureza. Então, uma paixão inédita cresceu no seu interior, apoderou-se do seu julgamento frio, e fê-lo esquecer tudo o que antes experienciara, absorvido pelo momento, pela beleza incondicional e sobrenatural daquele ser que agora vivia em si mesmo.

Mas…voltou num instante à sua racionalidade, e pensou: Será que era a arte que o apaixonava, ou a simples beleza superficial do seu rosto? Será que ele se enterrava no seu olhar, se perdia no interior dos seus olhos, ou apenas admirava o brilho do Sol, que neles refletia? Será que o seu olhar transcendia o impulso natural e selvagem de qualquer homem, ou se resumia a uma visão superficial, presa ao invólucro da sua pele, lisa e perfeita? Será que visualizava uma aura em sua volta, ou apenas a água rebrilhante? E quem seria ela? Ele nunca a vira, pelo menos nunca tão nitidamente como agora o mundo a enaltecia, mas continuava a sentir que a sua vida, a sua felicidade, o seu próprio íntimo e essência, se deviam a ela, e apenas na sua perfeição poderiam subsistir. No fundo, pensou ele, engolindo em seco, o seu rosto perplexo, lívido: sem a perfeição dela, o mundo não passava de um vazio, morto e inexpressivo, e ele existia apenas nela, e para ela.

Nesse momento, dois momentos depois de ela o encarar, ele percebeu, por fim: Ele amava-a.

Jack Maquiavel - Escalão A

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