quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Seminário FOLIO Educa 21

 

Ao ponto mais elevado de uma escultura chama-se criança (In Exposição Pim, curadoria Mafalda Milhões)

No princípio, emergem expectativas, já a pré-saborear os estímulos que, adivinhamos, estão prestes a rebentar. Do lado direito a frase “Pés na terra, cabeça nos livros” embate no nosso olhar e faz-nos sorrir em sinal de concordância. Sente-se já a aragem fresca da manhã outoniça, o bulício ainda não despontou, e, entramos na terra da fantasia, onde, desde logo, na porta de entrada da vila, com suas muralhas medievais, um grandioso e elevado nicho azulejado nos abençoa. Galgamos as primeiras escadas, e, entre cumprimentos e apertos de mãos (já que os beijos de memórias não passam) sentimos no ar o aroma do café quentinho que já apetece. Com as ofertas no ecológico saco do FOLIO, para o poço da sabedoria e partilha nos encaminhamos. Mas como a “sociedade” não é secreta, apenas uma ampla porta de entrada e zero obstáculos se vislumbram.



Já confortavelmente refastelados, assistimos às boas-vindas, que não à maneira da galeria Ogiva de curadoria de Mafalda Milhões, onde a transgressão artística se inicia logo nas “não boas-vindas” e, assim nos entusiasmamos com as reservadas surpresas, como, por exemplo, o novelo de fio vermelho que ao terraço nos conduz: “ a arte é o novelo de nadas que se desenleia céu afora, nenhuma arte sobrevive sem alvará para ninhos, dá-te asas, aprende a voar”. Ou então, a peça inicialmente exposta, onde, um metálico principezinho aprecia a sua flor, depois de ter viajado no seu helicóptero, mas o “essencial é invisível aos olhos”. Em frente, surge uma bola gigantesca, qual nave espacial, de ferro construída, mas presa por fortes correntes. Serão elas que impedem a viagem e o sonho? Estará o ser humano demasiado preso e impossibilitado de chegar ao outro?   Assumirá a arte esse papel libertador e de aproximação ao outro (nós)? No vão das escadas paramos:
Na arte, como na vida, guarda sempre um espaço em branco, por preencher, nunca se sabe o dia de amanhã e, se te esforçares, até o passado é imprevisível, se não anseias pelo inesperado, se não lutas pelo inimaginável, se não desejas o subitâneo, se te resignas à previdência ou a uma qualquer ideia de perfeição ou harmonia…paz a tua alma.
De repente, imagino o poema de Mário Henrique-Leiria e ouço a voz e vejo a facis de Paulo Condessa a “comer” a nêspera muito sossegada e conformada na sua fatal inação. Na minha vasta imaginação parece que ouço os filosóficos, pedagógicos e estoicos conselhos de Ricardo Reis sobre lições de vida: “guarda”. Nada de excessos, vive o presente, porque a vida é efémera, mas põe no mínimo que fazes, tudo quanto és porque a lua alta brilha…..Relembro-os de cor… Ou então Pablo Neruda, Morre Lentamente ... Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo. Morre ... Mas nós não queremos morrer, nem ser idiotas, como anuncia o provérbio chinês adaptado: “quando o artista aponta para a lua, o idiota olha para o dedo”.



Voltando ao poço da sabedoria, inspirando-nos em Paulo Freire, que na sua obra, A importância do ato de ler, destaca a construção de um mundo mais humanamente humano, a leitura do mundo, a educação a pensar certo:   aprendizagem surge da e na troca da educação. A sua essência era maker, tinha ideias que inspiraram muitas pessoas, foi provocador da mudança de comportamentos, defendia a conexão entre pessoas com a sociedade, o empoderamento - acreditar que é possível fazer. Paulo Freire era híbrido, no sentido que defendia mais experimentação, mais projetos interdisciplinares, promovendo a disrupção. O futuro da escola é a cidade, isto é, redesenhar o mundo a partir da escola (que é também a cidade com seus problemas). Portanto, o que mudou foi o modelo: o mundo tentando ser vídeo e menos livro. É necessário um espírito transgressivo para a mudança. A escola tem de deixar de ser a loja dos doces, temos de tornar-nos a cozinha: colaborando, explorando, e realizando experiências. O professor tem de estar presente, ser um guia, participando ativamente num espaço de criação.  


 E voltamos à galeria, já no terraço, avistam-se os velhos telhados e comtempla-se coloridas buganvílias que ainda não treparam até ao topo, porque estas, tal como as relações, às vezes têm espinhos. Mas é através da inovação e da arte que nós nos humanizamos, parafraseando Vergílio Ferreira, nós não somos um parafuso que só serve para ser útil. A inovação só surge quando nos desprendemos dos problemas da realidade, sendo necessária criatividade, e, muitas vezes, é o adulto que a destrói nas crianças. Vamos promover a mudança e a criatividade!



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