Fernando Pessoa morreu no dia 30 de novembro de 1935, em Lisboa, com 47 anos de idade.
‘Iniciação’
Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo.
......
O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.
Vem a noite, que é a morte
E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.
Mas na Estalagem do Assombro
Tiram-te os Anjos a capa.
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.
Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.
Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.
......
A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.
Não estás morto, entre ciprestes.
......
Neófito, não há morte.
- Fernando Pessoa, in ‘Poesias’
Nascido a 13 de junho de 1888, no Largo de São Carlos, em Lisboa, é autor de uma obra imensa, a maior parte inédita à data da sua morte. A totalidade da sua obra é constituída por mais de 25 mil folhas – que incluem poesia, contos, peças de teatro, crítica literária, textos políticos e filosóficos, traduções, teoria linguística, cartas astrológicas e outros textos diversos, em português, inglês e francês - um espólio atualmente à guarda da Biblioteca Nacional de Portugal. O Arquivo Pessoa é uma base de dados online e de acesso livre que inclui a maior parte da obra pessoana: http://arquivopessoa.net/.
Sem comentários:
Enviar um comentário