Carlos de Oliveira, autor assumidamente neo-realista, inspirou-se no romance regionalista brasileiro (Jorge Amado, Graciliano Ramos, por exemplo) e na literatura americana de preocupação social (Ernest Hemingway, John Steinbeck ou William Faulkner) e criou uma obra única no panorama literário português a partir de 1942. Mas esta obra tornou-se ainda mais singular quando o autor se desligou da estética um pouco rígida imposta pela escola neo-realista e empreendeu, talvez, o mais interessante processo de reescrita conhecido na nossa literatura. Após ter fixado a sua “nova obra”, recusou tudo o que havia produzido antes, norteado pela busca da disciplina formal e do rigor da expressão ficcional, eliminando as marcas de escola e tudo o que considerava excessivo ou desnecessário. Ao nível da construção das personagens, inovou, adensando-as e explorando a sua interioridade. Claro que a dimensão social e o herói coletivo, popular e desfavorecido, apanágios do neo-realismo e dos autores que acompanharam o amadurecimento literário de Carlos Oliveira, nunca desapareceram da sua mira, mas soube trabalhá-los de uma forma inovadora e original, que merece uma leitura atenta.
Sem comentários:
Enviar um comentário