Apesar da intempérie, ontem o auditório da escola aqueceu com as gargalhadas do público em torno da performance exibida à volta da poesia de Alberto Pimenta.
Alberto Pimenta é um jovem de quase 87 anos. Será um dos grandes poetas vivos, o último de toda uma geração de irreverentes. Pimenta é anti-poder, anti-estrelato, anti-partidos políticos e um observador crítico da sociedade portuguesa. Para além de poeta, foi professor universitário da área da literatura – quer na Alemanha, de 1960 a 1976, quer em Portugal, até à reforma. Durante as décadas de 70 e 80, fez variadíssimas ‘performances’, a mais conhecida das quais aquela em que se fechou numa jaula do Jardim Zoológico de Lisboa (ao lado da jaula dos macacos), titulada ‘Homo Sapiens Sapiens’. A sua escrita (que tão bem retrata o absurdo de se ser Homem sem a Liberdade-Livre para que o possa ser plenamente), o seu percurso de vida, a sua atitude de poeta-de-tiragens-curtas, ou de escritor ‘marginal’ (à margem do mecanismo instituído para uso e consolo dos oportunistas das letras, os homenageados pelo Poder), levaram-me a pensar nesta atividade, que por ser uma dramatização dos textos de Alberto Pimenta, procurou fugir ao formato da leitura convencional de poemas, para ser, sim, uma espécie de pequena ‘performance’, despretensiosa, que tentou apenas espelhar a liberdade da escrita e do percurso deste homem que muito admiro. Um muito obrigado a quem lá esteve e me ajudou a sentir-me mais livre e a sentir-se mais livre também: assim o espero.
Peniche, 2 de dezembro de 2022
Noel Petinga Leopoldo
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